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Blessure

por Isabela Otechar
Fotografia: Vista da Baía de Guanabara a partir de Niterói – Autoria não identificada (Acervo Instituto Moreira Salles).

Isabela Otechar nasceu em São Paulo em 1995. É poeta e psicanalista. Vive em Marselha, no sul da França, onde exerce a psicanálise. Destraços é seu primeiro livro de poemas e será publicado em breve pela Editora 7letras.


blessure

naquele dia quente de agosto
eu estava ferida
perguntei:
Laura, será que vai dar para ver
o sangue na água?
nage loin
ela disse
e eu nado
longe


palatine hill

e se um dia você acordasse e se perguntasse

são essas mesmo as minhas mãos?

se não se pode nomear as coisas
que não existem

o que faz da mão uma mão?

habitar ruínas
se vestir de fotos preto e branco
uma localização perdida

e se um dia você imaginasse todos os dedos que passaram
ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤpor ali?

qualquer abalo sísmico
seria como uma estrela vomitada

do buraco negro
uma muralha da China

e se você fizesse a hipótese que era Roma
monte Palatino?

mas não se podia enxergar os olhos

restaram as mãos
e o que as tornam
mãos
poeira do vento
uma das sete colinas
de Roma
a fundação de uma cidade
primeiro verso
suspendido

e se as mãos fossem ruínas?


longchamp

a fonte secou
em lugares onde
se deram os inícios
esperados para acolher
todos os ritos
um monumento
erguido para celebrar
a chegada d’água
em uma cidade
a fonte secou
pedras centenárias
escurecem
em suas partes
mais íntimas
a fonte secou
mas os cabelos
esses
seguem
molhados


Fotografia: Vista da Baía de Guanabara a partir de Niterói – Autoria não identificada (Acervo Instituto Moreira Salles).

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